Paulo Renato Pinto Porto
O prefeito de São Francisco de Itabapoana, Carlos Alberto Silva Azevedo, o Beto Azevedo (PMDB), teve seu mandato cassado pela Câmara de Vereadores, em sessão extraordinária, em razão de denúncias de fraudes e desvios de verbas do SUS (Sistema Único de Saúde), que causaram um prejuízo de cerca de R$ 2,5 milhões aos cofres do município. Hoje mesmo, o vice-prefeito Frederico Barbosa Lemos (PR) assume o cargo.
Marcada para 10h, a sessão de julgamento do prefeito começou por volta de 12h e terminou pouco antes de 17h, com seis votos a favor e três contrários á cassação. Antes da votação, cada vereador teve 15 minutos para manifestar-se a respeito da cassação. Depois, foi a vez do advogado João Paulo Granja, que atua na defesa do prefeito, que tentou convencer os vereadores pelo não afastamento do prefeito.
Foi a terceira tentativa dos vereadores em cassar o mandato do prefeito, em razão de alegações e manobras protelatórias do advogado João Paulo Granja, que atuou na defesa do prefeito.
Após a exposição de alegações, teve inicio o processo de votação, que transcorreu de forma nominal. Votaram a favor da cassação os vereadores Adriana Coelho, Fabinho do Estaleiro, Jamilton Chaô, Jarédio Azevedo, Renato de Buena e Tininho. Contra a cassação, votaram Kdemar Cordeiro (Caboclo), Sérgio Elias e Cláudio Luiz Henriques.
Vice assume prevendo dificuldades
Tão logo foi consumada a cassação do prefeito, populares que se encontravam na Câmara festejaram o afastamento de Beto, enquanto que o vice-prefeito Frederico Barbosa Lemos (PR) se preparava para assumir a prefeitura e revelou que em junho terá dificuldades de caixa. “Soube que não há caixa para qualquer despesa na área da Saúde, mas vamos ter solução. Estarei logo cedo no Hospital Manoel Carola para tranquilizar os médicos e outros funcionários e falar que o tempo é de mudança, mas quem trabalha continuará no governo. Quem não trabalha, não precisa mais pensar em receber, nem precisa sair de casa”, avisou.
Frederico buscou tranquilizar a população ao declarar que o município não corre o risco de ingressar num período de instabilidade, como alegaram o advogado do prefeito e vereadores que não queriam a cassação. “Nós iremos entrar, sim, num período de estabilidade. A instabilidade já vinha ocorrendo antes, o que nós iremos fazer é sair dela. É só perguntar à população se queria ou não a cassação. Respeito o voto de cada vereador, mas a população irá julgar cada um deles pelo seu posicionamento”, analisou.
No MPF, pedido de afastamento
Entretanto, a situação de Beto Azevedo se complica cada vez mais. Ontem, ao mesmo tempo em que a Câmara se preparava para votar a sua cassação, chegava a informação sobre uma ação cautelar de improbidade movida pelo Ministério Público Federal (MPF) de Campos, pedindo o afastamento do prefeito e o bloqueio de seus bens, bem como dos ex-secretários de Saúde do município, Cristiano Salles Rodrigues e Fabiano Córdoba.
As razões expostas pelo MPF para propor a ação cautelar foram basicamente as mesmas que levaram a Comissão Processante (CP) na Câmara às investigações e a cassação do prefeito. Na Polícia Federal (PF), há um inquérito em fase de conclusão que apura as denúncias contra o prefeito, acusado pela PF de comandar uma organização criminosa montada para lesar os cofres do município, que tem um dos piores indicadores sociais do Estado do Rio.
Sensação de dever cumprido
Os vereadores tiveram a sensação do dever cumprido com a conclusão do relatório e a cassação, segundo avaliação do presidente da Comissão Processante, vereador Fabinho do Estaleiro. “A cassação do prefeito uma vitória do povo sanfranciscano. Num país de uma política tão marcada pela corrupção, temos que ter orgulho de ver um relatório concluído não terminar em pizza, como muitos imaginaram. Acho que a partir de agora as pessoas irão pensar dez vezes em mexer no dinheiro da população, assim como os vereadores serão olhados com mais respeito como representantes do povo. São Francisco viverá um novo tempo e nosso dever foi cumprido. Fizemos história”, exultou.
Num determinado momento, entretanto, Fabinho chegou às lágrimas ao lembrar da travessia perigosa que percorreu na presidência da CP, em meio a um plano denunciado para o seu assasinato. “As pessoas ainda irão saber de toda a verdade quando fui chamado ao gabinete de uma autoridade da Polícia Federal em Campos, que me alertou para que me ausentasse porque havia um plano para tirar minha vida. Não me arrependo de nada, pois meus filhos hoje podem se orgulhar de terem um pai que colocou até sua vida em risco para defender o povo de sua terra”, exclamou.
Prefeito ficou 5 dias preso no Rio
Beto chegou a ficar preso por cinco dias numa penitenciária em Bangu, pela Polícia Federal, durante a Operação Renascer, juntamente com Cristiano e Fabiano Córdoba, e ainda o empresário Fabel Santos Silva, dono da Fênix, além de sua esposa Juliana Meirelles.
A defesa de Beto tentou a todo custo mantê-lo no cargo através de agravos impetrados na Justiça local e no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ), mas os recursos foram indeferidos. Ontem mesmo, em decisão monocrática a desembargadora Cláudia Menezes rejeitou a último remédio jurídico para salvar Beto. O prefeito ainda pode recorrer ao colegiado do TJ para tentar retornar ao cargo.
Primo envergonhado
Primo do prefeito cassado, o vereador Jarédio Azevedo avaliou também que se fez justiça com a cassação de Beto. “Eu hoje me sinto envergonhado, pois sou filho de um vereador que foi assassinado lutando pelo povo, e hoje sou primo de um prefeito que está fechando todos os postos de saúde e acabando com o município. Vai ficar na história como o pior prefeito, mas o povo confiou nos vereadores que souberam fazer justiça”, afirmou.
Defesa de Beto não convence
O advogado do prefeito, João Paulo Granja, criticou a condução do processo de cassação pelos vereadores. Disse que faltou provas contra Beto e alegou que a cassação foi decidida com base em suposições. O advogado tentou convencer os vereadores da existência de irregularidades e vícios por ele apontados no processo de cassação, bem como buscou persuadi-los de que a o afastamento do prefeito se faria sem provas contra Beto.
Por fim, quis sensibilizar os parlamentares de que a cassação geraria instabilidade que seria prejudicial ao município. “A Câmara teria meios de transformar dúvidas em certeza, mas preferiu cassar o prefeito de forma açodada e lastreada por suposições”, sustentou.
FONTE: Jornal o Diário
http://www.odiariorj.com/camara-cassa-o-prefeito-de-sao-francisco/